Abriu portas no sábado, 2 de Julho, no Museu Malhoa, a exposição colectiva internacional “Corpus”. O museu caldense encheu-se de gente para assistir a esta iniciativa que reuniu obras e autores de vários países europeus. Na abertura ainda participou o secretário de Estado do Desenvolvimento e Coesão, Nelson de Souza, que se encontrava naquele espaço museológico a participar no encerramento do ciclo de conferências dedicadas às termas.
Há uma senhora que está atrás de uma moldura, trajando de negro e que encara o público de frente. A sala está completamente cheia com gente que aguarda com expectativa a performance da artista espanhola Mónica Muro que, atrás de uma moldura, faz as diversas acções de maquilhagem e de desmaquilhagem como se estivesse ao espelho. Depois destas tarefas tipicamente femininas, coloca no seu rosto creme de barbear e com recurso a uma navalha simula que faz a barba.
“Faço uma reflexão, não só sobre as questões de género, como também sobre o próprio envelhecimento”, disse a artista ao público que entretanto escutava em silêncio a explicação sobre o seu trabalho. Em seda, estava impresso o rosto de Mónica Muro, tal como ela é e em mais duas fases onde simula como será daqui a várias décadas.
A visita guiada à exposição foi coordenada pela curadora Genoveva Oliveira, que se dedica às artes e à investigação há vários anos. A curadora trabalha com diversas entidades portuguesas e estrangeiras e foi assim que reuniu os contactos que lhe possibilitaram reunir 16 artistas para poder realizar “Corpus”.
Na exposição podem ser vistos retratos, auto-retratos, obras em têxtil, cabeças em cerâmica, num sem fim de propostas contemporâneas que reflectem sobre o corpo e a sua importância no século XXI.
Aos portugueses Luís Lobo Henriques (fotografia), Susana Paiva (fotografia), Maria Kowalski (fotografia), Miguel Bonneville (video), Olga Noronha (moda/instalação), Krisitine Kosta (moda/instalação), Axel Sutinen (pintura), juntaram-se os finlandeses Petri Salo (pintura) e Carl Peter Buschkuhle (pintura), a italiana Laura Fantini (pintura), as espanholas Eva Vieira (vídeo) e Mónica Mura (fotografia/vídeo), a sueca Lena Onnesjo (vídeo) e a canadiana Vanessa Codinha Barbosa (tapeçaria).
Reflectir sobre o corpo na actualidade
Do grupo de artistas ainda fazem parte Elsa Rebelo com um conjunto de cabeças feitas em cerâmica e várias peças das colecções de joalharia de Liliana Alves. A exposição tem como objectivo “reflectir sobre as linguagens do corpo como uma construção social e política”, disse a curadora que decidiu também juntar obras do acervo daquele espaço museológico. Desta forma, aos corpos e personagens naturalistas, estes artistas “contrapuseram com os reptos da sociedade contemporânea”.
Genoveva Oliveira ao longo da sua intervenção salientou que “nunca se teve uma preocupação tão grande com a beleza, a juventude e o prazer”. Vários artistas que integram esta colectiva marcaram presença na inauguração e explicaram as intenções das suas obras. Uma delas, a criadora de moda Krisitine Kosta, apresentou dois vestidos passados por duas modelos que foram penteadas pela hair stylist caldense Ana Saramago. Aproveitando a presença do secretário de Estado do Desenvolvimento e Coesão, Nelson de Souza, bem como vários representantes do poder local, Genoveva Oliveira, deixou a nota de que os governantes deveriam dar mais importância aos artistas pois há muitos que neste momento de crise “nem sempre vivem de forma digna”. A curadora afirmou que este tipo de “desatenção” a incomoda, sobretudo porque as artes, em toda a Europa, “fazem mexer a economia e geram milhões de euros”.
“Corpus” – que integra obras de 16 artistas europeus – vai estar patente no Museu de José Malhoa até 4 de Setembro.
A espanhola Mónica Muro fez uma performance que antecedeu a abertura da exposição | NATACHA NARCISO[/caption