Crónicas de Bem Fazer e de Mal Dizer – VI – A dança como método terapêutico da cura do reumatismo

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Fora da Terra – Júlio César Machado e Pinheiro Chagas - 1878

1Júlio César Machado [1835 – 1890], jornalista de créditos comprovados é um amigo de peito de Rafael Bordalo Pinheiro; tanto assim, que em 1866, quando Rafael perdido de amores se casa com Elvira, escolhe para padrinho o cronista natural de A-dos-Ruivos.
Júlio César Machado dedica-se ao jornalismo ao mesmo tempo que vai escrevendo crónicas, muito delas sobre a região oeste; como está bem de ver, as Caldas da Rainha tem que ser objeto do seu interesse. E os seus textos deixam transparecer o seu profundo conhecimento da vida do dia a dia da vila por quem demonstra uma especial predileção.

Com a colaboração de Pinheiro Chagas, em 1878, dá à estampa um livro intitulado “Fora da Terra”, em que descreve uma viagem abrangendo Caldas da Rainha, as Festas da Nazaré, Leiria e Marinha Grande, Cintra, Bussaco, Bom Sucesso, Paço d’Arcos e Espinho.
Este livro é editado sob a responsabilidade da Livraria Internacional, de Ernesto e Eugénio Chardron, com representação em Lisboa e Porto, tendo sido impresso na Tipografia de António José da Silva Teixeira, em Cancela Velha, Nr.º 62.
Após fazer uma descrição da vila, Júlio César Machado dedica-se à noite caldense: e nós escondidos no vão de uma escada, vamos observar incógnitos; basta abrirmos o livro na página 10:
“Desde as 9 Horas até à meia noite as polcas, as valsas, os lanceiros, as contradanças, o rigodom enlaçam em doidas e graciosas chorêas os carlistas e as filhas dos republicanos, as portuguesas e os descendentes do Cid, e trocam-se os vossas excelências e os ustedes, e para um lado se garganteia em espanhol, e para outro se gorjeia em português, e trocam-se galanteios em português e comprimentos em espanhol e sorrisos em língua universal, e no piano incansável doudeja a música alegre das danças variadas, e tudo corre, e volteia e ri e palra, valsam os reumáticos, polcam os bronquíticos, que aqui só se tosse pela manhã e só se coxeia na antecâmara dos quartos de banho, para se obter um tour de faveur do azafamado Valentim, encarregado desse serviço, que o desempenha com uma qualidade que honra a acção terapêutica das emanações sulfídricas.
Mas à noite sim! À noite não há gota que resista ao cotillon.”
Caro leitor, se quiser continuar o tratamento dançando embalado pelas palavras de Júlio César Machado, leia o livro …

Isabel Castanheira