O cachecol do artista | Questões permanentes

0
636

Saiu há dias uma reportagem na Gazeta das Caldas sobre o Plano Estratégico, encomendado pela CMCR a uma consultora “chique” e bem cotada no “status quo” político partidário. Esperamos que o documento esteja disponível em breve, na sua versão integral, já que o que veio a público é muito vago e superficial, e mesmo com alguns erros conceptuais e de facto, para ser tomado a sério como um instrumento de planeamento deste calibre deve ser. Sublinhamos, no entanto, uma medida que o plano propõe, e que habita o programa eleitoral do BE há pelo menos oito anos, desde as eleições autárquicas de 2009: aquisição de uma draga para dragagem permanente da Lagoa de Óbidos. Congratulamos-nos por este reconhecimento e validação da nossa proposta. Sem deixarmos de ter alguma reserva, em geral, ao que foi apresentado até termos acesso ao documento completo.

A dragagem da Lagoa é uma medida importante para todas as populações que convivem mais directamente com este habitat, mas não se esgota aí. Nenhum caldense, ou obidense, ou qualquer cidadão de outro município, pode ficar indiferente à forma como têm sido conduzidas as dragagens. Basta ver o resultado da última intervenção: toda a areia colocada na coroa oceânica, vulgo na praia, foi devolvida ao leito da lagoa pelos ventos e marés de inverno.
Mas junto à lagoa persistem outros problemas. Quando escrevemos a crónica anterior e nos referimos à Junta de Freguesia da Foz do Arelho para dizer que o que ali se passava era algo de inadmissível, estávamos longe de imaginar a dimensão absurda do descontrole, barafunda e roubalheira que por ali grassa. Estando fora do perímetro da auditoria o ano de 2017 e a “associação” que foi montada para gerir as receitas próprias da freguesia, mesmo assim, o desfalque é superior a 5000 euros por mês. Ou seja, nos últimos três anos desapareceram das contas da Junta de Freguesia mais de 170 euros por dia. É obra! E a pergunta que se impõe é: quem é que controla, até ao fim do mandato, o que vai acontecer com as receitas de verão da junta? Que mecanismos de controle pela Assembleia de Freguesia podem ser convocados? O que é que a CMCR pode e deve fazer? A população da Foz do Arelho está seriamente preocupada com estas inquietações, e com toda a razão. E merece respostas sérias e objectivas. O regabofe reinante tem de ser interrompido de imediato.
Enquanto vou escrevendo estas linhas acompanho as notícias dos incêndios florestais que este fim de semana voltaram a marcar a nossa actualidade televisiva. Com particular destaque para a calamidade que se abateu sobre o nosso distrito, na zona do pinhal interior, com particular violência no concelho de Pedrogão Grande. Para lá da tragédia, o povo português é insuperável na solidariedade perante o horror. No final do telejornal era dada a notícia do excesso de bens alimentares, e de primeira necessidade, que foram encaminhados para Pedrogão Grande, através das corporações de bombeiros e que estavam já a ser reencaminhados para outros teatros de operações. É por isso também, que merecemos mais dos nossos políticos, que temos de exigir mais aos nossos governantes e aos autarcas. No programa do BE às próximas eleições estão previstas medidas a desencadear pela autarquia para incrementar boas práticas florestais e de ordenamento do território. A nossa autarquia, como outras pelo país, deve criar as condições de valorização dos resíduos florestais que façam compensar economicamente quem cuida da floresta e as medidas coercivas que penalizem quem não o faça. A criação de uma central municipal de biomassa que produza energia a partir dos resíduos é uma resposta adequada às necessidades de planeamento e manutenção florestal. Deve ainda ter uma equipa operacional de limpeza florestal, que limpe onde os proprietários não actuam. Enviando-lhes depois a respectiva factura.
A dragagem da lagoa e a central de biomassa são questões permanentes, por resolver pela autarquia. Ambas presentes nos programas do BE há anos.