Frutos renasce a afirma-se como o maior evento de Verão das Caldas

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2022
Frutos 2016
Foto de arquivo | FÁTIMA FERREIRA

A 28º edição da Feira Nacional de Hortofruticultura das Caldas da Rainha, que se realiza no Parque D. Carlos I está a ser um sucesso. O evento que começou a 19 de Agosto e prolonga-se até ao próximo domingo, contou nos quatro primeiros dias com mais de 24 mil bilhetes vendidos incluindo os passes de 10 dias.
Mas, mais do que o número de pessoas, o destaque vai para a afirmação do evento, que tendo por cenário o Parque, junta fruta, doçaria, gastronomia, artesanato, música e humor.
Durante a inauguração o presidente da Câmara, Tinta Ferreira, disse que é “muito consensual no concelho o desejo de voltar ao Parque com a Feira da Fruta”, lembrando que este foi um dos grandes eventos que afirmou as Caldas durante as décadas de 70 a 90.

Ainda a feira não tinha começado na sexta-feira da passada semana e a fila já se avolumava com pessoas a querer comprar bilhetes ou trocar os passes. Ricardo Ezequiel era um desses casos. O jovem de 16 anos que, minutos depois, iria participar na inauguração, integrado na Banda Comércio e Indústria, destaca  o certame pela qualidade dos concertos.
Embora caldense, não tem qualquer recordação das Feiras dos Frutos que já se realizaram no Parque até ao início dos anos 90, mas a mãe contou-lhe que quanto tinha a idade dele fazia parte da tradição vir a este certame e que muitos dos jovens de então costumavam lá trabalhar.
“Acho que a idéia é muito boa e acredito que trará bastante gente, até porque o Parque adequa-se para fazer todo o tipo de eventos. Acho até que deviam de fazer mais”, opinou.
A inauguração marcada para as 18h00 começaria com meia hora de atraso e foi feita com a “prata da casa”, contando também com a directora Regional de Agricultura e Pescas de Lisboa e Vale do Tejo, Elisabete Jardim, do presidente do Turismo do Centro, Pedro Machado, e da directora Regional de Lisboa e Vale do Tejo do Instituto Português do Desporto e Juventude, Eduarda Marques, e outros autarcas da região e um de Lisboa, que viriam a demorar mais de três horas para dar a volta a todos os expositores.
Feita a ronda, grande parte dela sob chuva miudinhe, a comitiva concentrou-se na tenda do show cooking a ouvir o presidente da Câmara, Tinta Ferreira, enaltecer o certame que permite aos produtores darem a conhecer e reafirmarem a importância dos seus produtos. O autarca acredita que esta iniciativa corresponde ao desejo dos caldenses, mas também à necessidade de reocupar um espaço que faltava, a nível nacional, de afirmação destes produtos do sector primário.
Tinta Ferreira reconheceu que o dia não foi o mais animador em termos de clima, mas fez notar que “os grandes eventos das Caldas, pelo menos no meu mandato, foram todos feitos à chuva e resultaram bem”. O autarca disse ainda que esta é a primeira edição e, como tal, terá alguns aspectos a melhorar, e que querem aprender com o que está mal e exaltar o que está bem.
A directora Regional de Agricultura e Pescas de Lisboa e Vale do Tejo, Elisabete Jardim, chegou a visitar as antigas feiras dos frutos no Parque e guarda na memória a qualidade da fruta que lhe enchia os olhos. Considera também que, “numa altura em que tanto se tem investido em agricultura, e nesta região particularmente em fruticultura e horticultura, faz todo o sentido repor esta feira”.
Perante alguns produtores, Elisabete Jardim falou do que mais preocupa o sector, que são os atrasos no financiamento ao desenvolvimento rural. “Há muitas pessoas a queixar-se e cheias de razão porque há candidaturas submetidas há mais de um ano e que ainda não tiveram decisão nem sequer estão em análise”, disse.
A responsável explicou ainda que região de Lisboa e Vale do Tejo, que integra o Oeste, não é a que tem um maior número de candidaturas. Nesta área as candidaturas são pouco mais de 1500 e, destas, a direcção regional já deu o seu parecer favorável a mais de 1000. “Acontece que o programa está concebido de maneira a que, por aviso, as candidaturas só podem ser decididas quando, a nível nacional, todas as candidaturas forem analisadas”, explicou, acrescentando que estão, por isso, também a analisar candidaturas do norte, de modo a que o processo seja agilizado.

 

Gaspacho a terminar a inauguração

 

A cerimónia terminou com uma prova de gaspacho, confeccionada pelo chef Tiago Costa, da Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste. para confeccionar esta “sopa fria” o chef utilizou meloa, morango e tomate, que combinou com uma espuma de hortelã.
Mas nem só de gastronomia vive o evento. Há também um espaço saúde, outro de cerâmica, aulas de yoga, palestras, podem caçar-se pokemons e, na Casa dos Barcos o humor é rei. Encontra-se em permanência uma exposição dedicada a Rafael Bordalo Pinheiro, com ilustrações de Bruno Prates e argumento de Isabel Castanheira e, na tarde de terça-feira, o humorista Luís Filipe Borges encheu o espaço com  a sua stand-up comedy.
Feliz por estar nas Caldas, o humorista, já com 39 anos, confessou que esta foi a primeira vez que veio à cidade. Pelo caminho estudou um pouco sobre esta terra e acha que tem uma mistura “espectacular” do profano e do cultural: “por um lado há José Malhoa e por outro há pilas de loiça”.
Nesta segunda semana de evento serão colocados mais dois postos de venda de bilhetes para compensar os dias de maior afluência. No próximo sábado à tarde será apresentada, por um elemento estrangeiro da task force, a rede europeia das cidades termais, na qual as Caldas está integrada.
Durante o evento a organização disponibiliza também um autocarro, após os concertos, para levar as pessoas às festas que existem nas freguesias. Nestes primeiros dias foram feitas viagens para o Carvalhal Benfeito, Coto, Cumeira da Cruz e Foz do Arelho.

 

“Nunca tinha visto o Parque com tanta gente”

 

O caldense Joaquim Barros voltou à Feira dos Frutos. Era um habitué deste certame já nas décadas de 70 e 80 e os seus pais foram ali vendedores de fruta. “Vínhamos cá sempre que havia feira e a minha mãe foi vendedora na Praça durante 40 anos” recordou.
Joaquim Barros encontrou algumas falhas nesta edição, que releva por se tratar da primeira edição. Queixou-se da falta de informação para os visitantes que vêm de fora a dizer porque é que o parque está fechado e discorda da necessidade de usar a pulseira no braço durante os dez dias de evento.
“E esta feira tem muito pouco a ver com fruta. Num concelho fundamentalmente agrícola pensava que tivesse uma dimensão maior”, disse o caldense que esperava encontrar mais produtores a vender.
Já Rita Santos, de Lisboa, visitou a feira com a família e gostou do que viu. “Não conhecia, soubemos da sua existência e decidimos vir ver. Acho que tem muita oferta, sobretudo de doçaria e artesanato, e o espaço do Parque é maravilhoso”, disse.
A jovem destacou também pela positiva o preço do bilhete, sobretudo tendo em conta a qualidade dos espectáculos. O único senão é mesmo “estar tanto tempo na fila para os comprar”.
Ricardo Santos, de Alcobaça, queixava-se da falta de fruta num certame desta dimensão. “Estão meia dúzia de expositores de fruta, tudo o resto é institucional”, comentava, acrescentando que deviam de convidar mais produtores nas edições futuras. Por outro lado, destacou a “vida” que o evento trouxe ao Parque. “Acho que nunca tinha visto o Parque com tanta gente”, opinou.
Mas para quem quer comprar fruta, a Praça da Fruta, afigura-se como uma boa alternativa. Embora não esteja devidamente assinalado, o mercado na sexta-feira e sábado está a funcionar até às 22h00, mas falta-lhe alguma animação que estava prometida.
Pelo recinto há venda de frutas e legumes, mas também de alguns dos seus derivados, como doces e compotas. Há mesmo quem tenha criado produtos novos para ali apresentar, como é o caso das marmelachas, da Bombondrice. Há também maquinaria, tascas com comes e bebes de vários bares e restaurantes do concelho, e muito artesanato. Os stands institucionais são a maior fatia da feira.
A vender  fruta da época, toda oriunda das fazendas de Almeirim, está José Faria, da Paulo Frutas. O vendedor de Santarém faz todas as segundas feiras o mercado das Caldas e gosta de cá vender. “As pessoas são simpáticas”, diz, acrescentando que decidiu aproveitar esta feita, num espaço “óptimo” como é o Parque, para poder vender as suas uvas, pêssegos, melão, melancia, nectarinas e outra fruta de época.
Dionísio Oliveira instalou uma estufa de nove metros quadrados por detrás do Museu de José Malhoa. Nela o produtor de Olho Marinho colocou plantas aromáticas, como salvia, segurelha, tomilho, manjericão, coentros, erva príncipe. Estas  estão em sacos de cultura. “Já não faço nada na terra”, conta o produtor que produz em modo biológico e está certificado.
Produzir em modo biológico (o que podia ser o grande atrativo que distinguisse a feira a nível nacional) traz mais valias para as ervas aromáticas ao nível dos cheiros e o facto de não estarem sujeitas aos intervalos de segurança dos pesticidas.
Natural de Lisboa e a residir há muitos anos em Óbidos ainda se lembra das antigas feiras que se realizaram no Parque. Diz que não há comparações que se possam fazer, pois estes certames representam um sinal dos tempos que vivem. “Há 30 anos havia mais movimento, os agricultores eram mais robustos fisicamente”, lembra, acrescentando que actualmente a produção é feita sem recurso a enxadas, apenas com maquinaria.
Recorda ainda que os camiões com a fruta e hortícolas entravam dentro do Parque e que os agricultores chegavam a dormir debaixo deles para o dia seguinte, e vendia-se fruta à caixa e em palotes, enquanto que agora a feira é mais expositiva.
Dionísio Oliveira está no certame para divulgar a sua empresa de plantas aromáticas, Montra da Quinta, que está há um ano no mercado e vende essencialmente para supermercados e restaurantes.

 

Chamar a atenção para o conhecimento

 

Logo à entrada, no Céu de Vidro, está o consultório técnico, onde os produtores se podem aconselhar com profissionais da área sobre várias questões do sector e uma exposição de homenagem a Amado da Silva, técnico de fruticultura que acompanhou muitos agricultores do Oeste. Uma cronologia mostra a vida e obra do engenheiro agrário, que de acordo com o técnico José Alexande, “preparou-se para a causa”, estudando bastante sobre fruticultura e viajando com outros colegas para França e Espanha, para ver o que por lá era feito no sector.
José Alexandre lembrou que foi no Centro Experimental da Quinta de S. João, no Coto (agora encerrado) que Amado Silva “pôde expandir toda a sua criatividade e vontade de fazer experimentação”. Crítico, diz que não se quer arrancar com a agricultura a sério no país e defende que voltem a haver cursos ligados ao sector nas universidades. “Temos que ter centros de experimentação em cada região”, disse, defendendo a reactivação do centro do Coto.
O consultório técnico está a funcionar porque querem chamar a atenção para o conhecimento e a tentar preparar os produtores para o futuro. “Tem que haver experimentação e investigação, tem que haver sobretudo extensão rural frutícola” defende o técnico José Alexandre.
Este responsável destaca também a importância da reconversão de algumas culturas para modo biológico, sobretudo ao nível da pequena agricultura, que não está organizada.

 

Assunção Cristas destaca sector que tem “ajudado a economia a crescer”

A presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, visitou na passada segunda-feira (22 de Agosto) a Feira dos Frutos. Acompanhada pela comitiva e presidente da Câmara das Caldas, a líder partidária percorreu todo o recinto, falando com os produtores e expositores e provando fruta, doces, licores e vinhos, que ali se encontram.
No final da visita de mais de uma hora, Assunção Cristas disse aos jornalistas que “é um gosto” visitar iniciativas da área agrícola, um sector que tem “trabalhado muito, inovado e que tem sido responsável por boa parte das exportações portuguesas”. Contudo, não deixou de criticar o actual governo por “maltratar o sector”, com paragens nos apoios comunitários e nos pagamentos atempados.
A ex-ministra da Agricultura gosta de estar junto dos produtores, de “quem trabalha todos os dias para ajudar a nossa economia a crescer”, apesar de considerar que está a verificar-se um crescimento “muito anémico”, de apenas 0,8%.
A visita ao certame foi uma oportunidade para Assunção Cristas contactar com a realidade local, “altamente dinâmica” e que abrange a pêra Rocha e a maçã de Alcobaça. Serviu também para verificar o contributo que o vereador do CDS-PP, Manuel Isaac “deu para a concretização da feira que muitos anos esteve arredada do Parque”, disse, elogiando o trabalho do seu vereador.
A dirigente centrista considera que a feira tem potencial para se afirmar a nível nacional e que é preciso trabalhar mais para trazer mais produtores e dinamismo ao certame, que se realiza num espaço “belíssimo”.