Crise dos combustíveis não afectou consumidores na região, mas criou pico de encomendas para a Auto Júlio

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Com capacidade de armazenamento de 1,15 milhões de litros e frota de distribuição própria, a Auto Júlio não teve falta de combustíveis na sua rede de postos de abastecimento

A greve dos motoristas de transporte de matérias perigosas terminou na noite de domingo e não provocou quebra de fornecimento na região. Embora alguns postos tenham ficado temporariamente sem produto, foi possível abastecer em locais alternativos.
O Grupo Auto Júlio, cuja principal actividade é o comércio de combustíveis, teve uma taxa de fornecimento muito próxima dos 100%, mas as encomendas dispararam. A empresa sentiu os efeitos da paralisação a partir de 1 de Agosto e os pedidos equivalentes ao de um mês “normal” foram registados no espaço de uma semana.

Durante uma semana os motoristas de transporte de matérias perigosas estiveram em greve, mas os efeitos para o consumidor foram reduzidos nas Caldas da Rainha. Alguns postos da região chegaram a ficar sem combustível, mas apenas temporariamente, uma vez que a reposição dos tanques continuou através dos serviços mínimos e da requisição civil decretados pelo governo. E quando um posto não tinha combustível para vender, não era difícil encontrá-lo nos postos mais próximos.
Fonte oficial da Repsol Portugal, que tem três postos nas Caldas (um deles integrou a rede REPA), disse à Gazeta que “antes e durante a crise energética houve alterações no padrão de consumo”, o que se traduziu em picos de procura, “que fomos resolvendo com o reforço de stocks nos postos de abastecimento”.
O mesmo aconteceu nos rede da empresa Auto Júlio, que só nas Caldas e Óbidos tem seis postos de abastecimento. Zita Agostinho, directora de negócios da Auto Júlio para o sector dos combustíveis, explicou à Gazeta das Caldas que a empresa caldense foi reabastecendo os seus 17 postos de marca própria com as suas viaturas, pelo que “tivemos sempre produto”.
Zita Agostinho disse que os efeitos da greve começaram a sentir-se bastante antes desta começar. Desde o início de Agosto, “cada vez que havia algum destaque na comunicação social, ou que o governo falava sobre o assunto, verificou-se uma afluência exagerada aos nossos postos”, observou.
Apesar de não ter faltado combustível, houve lugar ao racionamento decretado pelo governo, com limite máximo de 25 litros por cliente (15 litros nos postos da rede REPA), o que causou alguns problemas. “Houve situações de falta de civismo, pessoas que não aceitavam o limite e queriam era atestar. Chegou-se ao ridículo de haver clientes a abastecer só para ter o depósito cheio, mas não conseguiam pôr mais de quatro ou cinco litros”, conta.
Nos três postos que a empresa gere no Algarve (a empresa tem pontos de venda nos distritos de Leiria, Lisboa, Santarém e Faro) foi necessário repor stock todos os dias. “Geravam-se filas assim que o camião chegava ao posto”, observa.

ENCOMENDAS DE UM MÊS NUMA SEMANA

Além dos postos de abastecimento, a Auto Júlio tem uma frota de 15 camiões cisterna de transporte de combustíveis, com a qual faz distribuição para outros clientes. A empresa possui entrepostos de abastecimento nas Caldas, Pombal, Terrugem, Palmela, Beja e Messines, com capacidade de armazenamento para 1,15 milhões de litros.
Apesar de a greve acabar por só ter durado uma semana, desde 1 de Agosto que a empresa assistia a um grande aumento de trabalho, uma vez que as pessoas começaram muito cedo a corrida ao combustível. Isto numa altura do ano em que, mesmo em situações normais, se vendem mais combustíveis devido aos fluxos de turistas e também de emigrantes que regressam para férias em Portugal.
A empresa possui 17 bombas de gasolina, mas fornece combustível a 1600 clientes na sua maioria postos de combustível de várias marcas, bem como empresas. Movimenta perto de 6 milhões de litros de combustíveis por mês, mas em Agosto atingiu esse volume em apenas uma semana. “Isso afectou a nossa capacidade de entrega para a procura imediata”, disse Zita Agostinho, acrescentando que, mesmo assim, a taxa de fornecimento ficou muito perto dos 100%.
“Repusemos atempadamente as nossas relés [depósitos de armazenamento] e, como a Petrogal tinha problemas na distribuição, fomos buscar combustível directamente aos centros”, referiu.
A empresa fez uma gestão prioritária para as empresas agrícolas, que estão a iniciar as colheitas, para as transportadoras do sector alimentar e também para a indústria.
Nesta fase a empresa caldense fez ainda uma entrega especial – um fornecimento de 10 mil litros para o Jardim Zoológico de Lisboa.

SEM RETALIAÇÃO

Tal como se verificou durante a greve dos motoristas de transporte de mercadorias perigosas de Abril, os motoristas da Auto Júlio não aderiram ao protesto que se verificou na passada semana. Isso deve-se ao facto de a empresa já satisfazer muitas das reivindicações que o Sindicato dos Motoristas de Matérias Perigosas reclama para os seus sindicalizados.
Os vencimentos dos motoristas deste grupo caldense estão acima da tabela do contracto colectivo e o trabalho nocturno e ao fim-de-semana é evitado. “A política da empresa é que os colaboradores possam estar à hora de jantar e ao fim-de-semana com as suas famílias”, observa a directora de negócios da empresa.
Porém, Zita Agostinho concorda com a reivindicação que levou à paralisação. “Não é igual a transportar outras matérias porque envolve manusear combustíveis, contacto com gases, e é um trabalho duro”, argumenta.
Apesar dos motoristas da empresa não se terem juntado à greve, não houve um clima hostil por parte dos grevistas quando os camiões da Auto Júlio foram abastecer aos centros de abastecimento, como Aveiras, ou à passagem por piquetes de greve. Nos dois primeiros dias da paralisação, a empresa nem foi carregar a esses centros por respeito a quem estava em greve.
Gazeta das Caldas contactou ainda a Transwhite, empresa caldense do sector do transporte internacional de mercadorias. Manuela Sábio, gerente da empresa, disse que a sua actividade não foi afectada porque a norma é abastecer os camiões em Espanha, onde o combustível é mais barato. A empresa também se precaveu e atestou o tanque que tem nas suas instalações.