Realizou-se pela primeira vez o Festival de Música de Óbidos, organizado pela Sociedade Musical e Recreativa Obidense (SMRO), que reuniu na Praça de Santa Maria três bandas de diferentes nacionalidades. A filarmónica da SMRO representou Portugal, a BandItalia MSF exibiu as cores italianas e a Banda do CIM (Centre Instructiu Musical) veio de Valência, Espanha.
No total, participaram 185 músicos que, de 2 a 4 de Setembro, animaram a vila de Óbidos com seis concertos. Este festival inseriu-se também num projecto europeu que visa a integração de jovens com deficiência através da música. Por isso, o Centro de Educação Especial Rainha D. Leonor foi convidado a fazer parte da iniciativa.
Sexta-feira, 2 de Setembro, 21h30. Os primeiros concertos do Festival de Música de Óbidos estavam prestes a começar e a Praça de Santa Maria já estava cheia para assistir aos espectáculos de apresentação das três bandas. Entre o público encontram-se amigos da banda de Óbidos, familiares de músicos e muitos curiosos que fizeram uma pausa no seu passeio pela vila para ouvir as filarmónicas.
Duas horas antes, instrumentistas, maestros e vários elementos da Sociedade Musical e Recreativa Obidense (a organizadora deste evento), reuniram-se no salão da SCR Pinhalense para jantar. Sopa de feijão e filetes com arroz de tomate foram as especialidades confeccionadas para aconchegar o estômago. Embora sem instrumentos, já aqui os músicos faziam a festa, entoando várias canções num ambiente de familiaridade, alegria e convívio.
Em cima do palco o ambiente foi o mesmo.
A primeira peça juntou músicos da banda obidense, da Banda do CIM de Benimaclet (Valência) e da BandItalia – Música Sem Fronteiras. Esta última foi criada propositadamente para o Festival, sendo composta por instrumentistas das comunidades italianas de Darfo-Boario Terme, Staffolo e San Vito Chietino.
A MÚSICA É UMA LINGUAGEM UNIVERSAL
Na primeira noite as principais estrelas foram sete utentes do Centro de Educação Especial Rainha D. Leonor (CEERDL), convidados pela SMRO a participar no Festival. Isto porque a iniciativa insere-se num projecto europeu apoiado pelo programa Erasmus+ que visa o intercâmbio de bandas e a integração de pessoas com deficiência através da música. Foi precisamente em Agosto do ano passado, na cidade de Valência, que se deu início ao projecto, que originalmente contou com doentes de Asperger. Na altura Óbidos e Staffolo também estiveram presentes.
Agora, cerca de um ano depois, foi a SMRO que tomou a iniciativa, desafiando os residentes do CEERDL a integrarem um concerto expressando-se através de ritmos corporais, como o bater das palmas.
Maria João Domingos, directora do CEERDL, disse à Gazeta das Caldas que, embora os sete residentes do Centro só tenham ensaiado uma vez em conjunto com os músicos, o concerto correu muito bem. “Ao príncipio eles estavam receosos, mas foram muito bem recebidos por todos. Não os trataram com diferença e acabou por ser uma actividade muito divertida”, frisou, acrescentando que “é importante encontrar formas de integração de pessoas com deficiência e neste caso a música cumpriu o objectivo”.
Para o maestro espanhol Ildefonso Carretero, “o Festival é a prova de que a música é uma linguagem universal, entendida por pessoas de diferentes nacionalidades e que permite a união entre todos, inclusive de pessoas com algum tipo de deficiência”.
MAIS BANDAS EM VALÊNCIA DO QUE EM PORTUGAL
Só em Valência existem cerca de mil agrupações filarmónicas, mais do que o total do nosso país. Segundo Ildefonso Carretero, isto acontece porque “as festas populares têm muita força e a sua animação é normalmente assegurada por bandas, logo as pessoas identificam-se”. Além disso, os grupos são maioritariamente jovens e essa mesma tradição passa de pais para filhos.
No concerto de apresentação, com 80 músicos em palco, a banda de Valência apresentou vários pasodobles e uma das peças mais populares em Espanha: “Paquito El Chocolatero”.
Já a banda italiana, dirigida pelo maestro Nicola Patricelli, terminou a sua actuação com o hino do seu país. Italo Moschini e Sofia Sassaroli, dois dos 40 músicos da BandItalia – MSF, destacaram a arquitectura e a cultura da vila entre muralhas, assim como a simpatia da população obidense, que os acolheu de braços abertos.
Foi precisamente com a prata da casa – os músicos obidenses – que foi encerrado o primeiro dia do Festival, que terminou com o público a levantar-se das cadeiras e a dançar ao som da banda de Óbidos que, perto do final, também já estava fora do palco, juntando-se aos espectadores.
“Baile de Verão”, na sua “versão filarmónica”, foi dos últimos temas a ser dançado e aplaudido, tendo a noite terminado num autêntico clima de festa. Festa essa que continuou até domingo, com mais concertos e uma arruada no sábado.
João Raquel, maestro da banda da SMRO, salientou que “estes encontros são sempre momentos muito descontraídos e de grande amizade e alegria entre todos os participantes”.
Durante o Festival, os músicos italianos e espanhóis ficaram instalados no Pavilhão Gimnodesportivo de Óbidos e na ESE. Foram ainda realizadas visitas a Lisboa, Alcobaça e Óbidos.