Mais de trinta pessoas debateram a cidadania na Biblioteca Municipal

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debate cidadania e responsabibilidade
Embora pouco participado, o debate versou sobre a responsabilidade e os direitos e deveres dos cidadãos |Isaque Vicente

A participação, a responsabilidade e os direitos e deveres dos cidadãos foram alguns dos temas abordados num debate sobre a cidadania e responsabibilidade, que reuniu mais de 30 pessoas, na Biblioteca Municipal na tarde de 4 de Novembro, numa iniciativa da Coopcasa. Houve tempo para falar de economia social e para apresentar algumas instituições locais, numa conversa moderada por José Luiz Almeida e Silva, director da Gazeta das Caldas.

Recordando a História e notando que estamos num período de crise e, portanto, de grande crispação e mudança, José Lacerda da Fonseca, proponente do projecto Cidadania e Responsabilidade do primeiro OP de Caldas, disse que “a ética vai reassumir o seu papel central na construção da democracia social e que o civismo será o ponto central dessa nova ética”.
Fez notar que o equilíbrio da sociedade depende da igual consideração por todos os cidadãos e que “essa ideia por vezes desaparece”.
Afirmou que “criámos com a democracia uma lógica de desresponsabilização” em que o indivíduo se desresponsabiliza do poder político e só se sente responsável no momento de votar. “Não só a democracia criou isso, também o estado social, o próprio sistema económico criaram esse desinteresse”, acrescentou, defendendo que os cidadãos têm de ser os responsáveis.
O consumidor escolhe mais ou menos aquilo que quer, tal como na política, e não se questiona porque é que se produz uma coisa ou porque é que se deixa de tomar uma certa medida política. “Há um vazio e precisamos de algo que nos una”, concluiu.
A terminar, José Lacerda da Fonseca destacou a importância da democracia deliberativa, em que as pessoas são informadas antes de decidirem.

UMA APRENDIZAGEM PARA A CLASSE POLÍTICA

Hugo Oliveira, vice-presidente da autarquia, abordou o orçamento participativo e disse que as questões da democracia participativa são ainda uma aprendizagem para a classe política.
Esclareceu que a autarquia está neste momento à procura de um modelo de OP que permita aumentar a participação sem desvirtuar a ferramenta. O autarca admitiu que até agora não têm conseguido passar a mensagem de que vale a pena participar no OP e informou os presentes acerca das várias sugestões de alteração que estão em cima da mesa.
José Luiz Almeida e Silva, director da Gazeta das Caldas, moderou o debate e começou por alertar que “apesar de não ser um tema mobilizador de massas, a cidadania e responsabilidade são das questões cruciais nos dias que correm”.
Defendeu que “a responsabilidade social é dos encargos que a sociedade moderna deve ter cada vez mais, face a todas as ameaças que existem” e disse que às palavras cidadania e responsabilidade, poderiam ser adicionadas as de transparência e co-participação, pedindo que estas estejam presentes nos vários projectos a desenvolver nas Caldas.
Fez ainda notar que actualmente existem ferramentas de participação como o crowdfunding e deixou os seus votos para que daqui a dez anos o discurso possa ser mais optimista.

UMA BIBLIOTECA DE ECONOMIA SOCIAL

Já Liliana Ferreira Silva, da Coopcasa, deu a conhecer os projectos da associação, que nasceu de uma proposta de José Lacerda da Fonseca no OP 2013. A criação do site e de um vídeo, bem como de painéis de informação, as conferências e as sessões escolares são algumas das tarefas já concluídas. Falta organizar uma sessão de formação sobre voluntariado, pintar um mural sobre cidadania numa rua da cidade e criar a biblioteca da economia social.
O presidente da Cooperativa António Sérgio para a Economia Social, Eduardo Graça, destacou a importância do chamado terceiro sector na economia do país.
De 2010 a 2013, no período de maior crise, abriram mais seis mil entidades neste sector, que inclui as cooperativas, mutualistas, associações e fundações (incluindo as que têm estatuto de IPSS).
E se a maior parte são associações, não é aí que está o maior peso económico. Esse pertence às cooperativas e mutualistas e entidades com estatuto de IPSS que “representam 50% do emprego e da criação de riqueza do sector”.
Distinguiu subsídios estatais de pagamento de serviços e afirmou que ao contrário do que a maioria pensa, este sector não só não é subsídio-dependente como até contribui para a riqueza nacional.
Alertou ainda para o facto de estar aberto o concurso Coopjovem, que é dirigido aos cerca de 200 mil jovens que não estudam nem trabalham em Portugal.
QUEM GANHA AS ELEIÇÕES NÃO REPRESENTA A MAIORIA

Tinta Ferreira, presidente da Câmara, encerrou o debate, com a história de um deputado na Noruega que faz referendos antes de tomar qualquer decisão. O edil mostrou a sua preocupação pelo facto de existir uma abstenção muito elevada, que é o mesmo que dizer que quem ganha as eleições não representa a maioria do país, mas apenas a maioria dos votantes. Nesse sentido, sugeriu a alteração do modelo de voto para poder ser possível votar on-line.
Disse que nas Caldas há muitos fóruns de participação, com pouca gente a participar neles, o que pode ser resultado de dois factores: por um lado por existir uma participação associativa grande, e por outro porque a cidade tem meios de comunicação social livres.
“Não tínhamos condições para ter um concelho sustentável se não fosse o trabalho das instituições”, concluiu o autarca, que salientou o papel de três cooperativas na cidade: a Infancoop, o Centro de Educação Especial Rainha D. Leonor e a Gazeta das Caldas (que é detida pela Cooperativa Editorial Caldense CRL).

CoopCasa tem sede na rua dos Artistas

A CoopCasa conseguiu criar recentemente uma sede: a Casa dos Artistas, bem perto da Praça 5 de Outubro. Liliana Ferreira da Silva diz que este edifício é o ideal “por ser um marco cultural e artístico da cidade e pelo espírito estudantil e artístico que se tem vindo a cultivar na casa desde há algumas décadas”.
O espaço estava devoluto e em estado de degradação, pelo que recuperaram paredes, janelas e portas e renovaram a instalação eléctrica, trataram do telhado e das infiltrações e pintaram a casa. E embora o espaço ainda esteja em obras, já é usado pelas cooperadoras.
Para as obras contaram com a ajuda de voluntários, amigos e familiares e usaram fundos pessoais e uma parte da bolsa do programa CoopJovem.
A ideia é que esta nova casa funcione um pouco como as repúblicas de estudantes em Coimbra.
A CoopCasa – Cooperativa para a Acção Social e Artística, é uma cooperativa cultural sem fins lucrativos que foi fundada no início de 2014 nas Caldas.

Misericórdia das Caldas emprega 150 funcionários

Da Santa Casa da Misericórdia das Caldas (SCMCR), estiveram António Cipriano e Cristina Rodrigues. O primeiro salientou os 3,8% do PIB que a Economia Social representa e informou que naquela instituição trabalham 150 funcionários.
A Santa Casa de Caldas tem um orçamento anual de 2,4 milhões de euros, dos quais 1,3 milhões são provenientes do Estado através da contratação de serviços.
Cristina Rodrigues, também da SCMCR, informou que têm 67 utentes no lar de idosos, mais 18 apartamentos assistidos para idosos. No Centro de Acolhimento Temporário têm capacidade para 15 crianças e no Lar de Infância e Juventude para 15 jovens.
Esclareceu que no período de maior crise serviam cerca de 190 refeições diárias, mas que esse número foi reduzido para cerca de 160.

Banco Alimentar do Oeste distribuiu 650 toneladas de alimentos

O Banco Alimentar opera em 21 países, com um total de 247 bancos. Em Portugal continental são 18, mais três nas ilhas e distribui bens alimentares por mais de 2000 instituições, ajudando cerca de 4% da população portuguesa (400 mil pessoas). Os números foram apresentados por José Siqueira de Carvalho, presidente da direcção do Banco Alimentar do Oeste.
Este banco ajuda 61 instituições. No último ano distribuiu um total de 650 toneladas de alimentos (avaliados em 900 mil euros). Desta forma ajuda na alimentação de mais de dez mil pessoas na região.
Na alturas das duas campanhas anuais chega a contar com 1500 colaboradores. Durante todo o ano na sede tem 10 funcionários, mais quatro na angariação de bens e 18 visitadores, que durante o ano acompanham as instituições. Os voluntários são na sua maioria do sexo feminino.
José Siqueira de Carvalho defendeu que, ao não deixar que se destrua a comida, o Banco Alimentar gera valor acrescentado e fez notar que “nos últimos dois anos se tem registado um decréscimo na oferta”.
Esta associação lançou um projecto a nível nacional em que os reclusos de cinco estabelecimentos prisionais do país podem ter a sua horta e recebem um ordenado.l