Era Uma Vez

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Gazeta das Caldas - Era uma vez
| D.R.

Todas as semanas o Era Uma Vez vai trazer um conto infantil para crianças e adultos lerem. A autora, Beatriz Lamas Oliveira, é médica especialista em Saúde Pública e Medicina Tropical, mas a escrita é a sua maior paixão, a par da ilustração e do desenho. Entre 2014 e 2016 publicou vários livros infantis que distribuiu através da sua própria editora, a Escrivaninha. Em 1999 publicou o seu primeiro romance O Insecto Imperfeito (Gradiva). Vive em Braga, mas conta brevemente mudar-se para a Vermelha (Cadaval). Esta colaboração com a Gazeta das Caldas é a sua primeira ligação à região Oeste.

C.C.

O menino e o sapo

Um menino encontrou um sapo no caminho. O animal não parecia nada assustado e estava com um ar muito indolente e pacífico. Até a barriga gordinha parecia ondular com o vento.
O nosso rapazinho não tinha pressa, tanto mais que a Mãe lhe tinha dito para ir à mercearia buscar um quilo de batatas para o jantar. Ora ainda nem tinham almoçado, portanto não era nenhuma urgência levar os tubérculos para casa. O menino tinha aprendido a palavra tubérculos na aula de ciências naturais,uns dias antes. Ficara encantado com a nova palavra. Mas quando chegara a casa e tinha contado ao Pai que preferia tubérculos fritos, para sua desilusão, recebeu uma breve gargalhada em resposta:
Tu..Tu..quê? Bétulas? Abréculas? Envergonhado com a falta de sucesso dos seus novos conhecimentos, o menino disfarçou a disse : _Nada. Nada. Estava eu a dizer que gosto mais das batatas fritas! Enfim, esquecendo os tubérculos! Mesmo ali à sua frente, plantado no caminho, estava o grande sapo anafado. O menino, que dava pelo nome de João, pensou que aquele era com certeza o sapo da história que a Mãe lhe tinha contado há tempos. Ou seja, o sapo era um príncipe, a quem uma feiticeira, para o arreliar, tinha transformado num bicho tão bonito! Mas o João estava avisado. Era só descobrir quais as palavras mágicas que devia dizer três vezes, para a colorida pele do falso animal cair e o príncipe conseguir sair daquela humilhante prisão. Ora portanto, palavras mágicas..ele conhecia o “abracadabra”, o “abre-te Sésamo”, o “ fora mosquito” e ainda o famoso refrão usado pela Avó Tina e que era pronunciado como uma chicotada: “Calados, já, ou sai tiro de broa de milho”. Então, ele acocorou-se para ficar mais perto do focinhito do sapo que continuava prazenteiro e calado e bradou com muitas ganas: “Abracadabra”, “Abre-te Sésamo”, “Fora mosquito”, “Calado, já, ou sai tiro de broa de milho”.

Beatriz Lamas Oliveira

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