A Cidade das Artes (II)

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Gazeta das Caldas - Paulo Caiado
Paulo Caiado

No ano passado, fui convidado pela Associação Cais, com quem colaborei em diferentes ocasiões, para participar num evento comemorativo do seu 25º aniversário. A Cais, que apoia a autonomia das pessoas em situação de exclusão social, decidiu, para celebrar esse marco, convidar alguns dos principais nomes da arte urbana nacional para fazerem uma criação original que seria depois colocada em leilão. Com o convite que recebi, veio a listagem dos artistas que aceitaram participar no projecto, a transformação de uma placa de MDF, de medidas similares para todos. De memória verifiquei que dos 27 intervenientes, 6 tinham passado pela ESAD nas Caldas. Poderiam ser mais, não sei. E não sei porque, embora seja uma pessoa interessada pela obra de cada um desses artistas muitas vezes não sei o seu currículo académico.
Recentemente foi editada uma antologia dos 16 melhores artistas de arte urbana nacional, uma listagem subjectiva a que eu acrescentaria mais meia dúzia de nomes mas trata-se já de uma obra essencial para um primeiro contacto com o meio. Dos 16 artistas individuais ou estúdios colectivos, dois criadores são naturais das Caldas, Daniel Eime e um dos dois co-autores do Halfstudio, Mariana Branco.
Que passaram pela nossa cidade posso mencionar, de novo de memória, alguns dos mais importantes artistas plásticos da nova geração e reportando-me apenas ao campo da arte urbana com importantes trabalhos indoor: Kruella d’Enfer, Tamara Alves, Daniel Eime, Halfstudio, Oze Arv, Pedro Campiche (akacorleone), Nico Basilio, Aheneah, Kilos, Mariana a Miserável, Nuno Alecrim, C’Marie.
Quem tem alguma relação com a ESAD de imediato dirá que falta uma mão cheia de nomes. Tenho a certeza que sim. O problema é que apesar de ser um interessado na arte contemporânea, não tenho nenhuma informação na minha cidade de quais os grandes nomes da arte contemporânea (nas suas múltiplas formas) que passaram por cá. Não há nenhum texto institucional, nenhuma brochura. Tal como por cá passaram, muitos partiram sem deixar um testemunho da sua passagem. São tão caldenses como Bordallo Pinheiro e muitos já são mais conhecidos internacionalmente que o nosso Bordallo mas não temos grande evidência da sua obra pela cidade. Apenas o mural “Lost Queen” de Daniel Eime, pintado nos Silos.
Nesta que é a minha última crónica para a Gazeta das Caldas, correspondendo ao honroso convite que recebi para aqui escrever durante um ano, deixo um derradeiro apelo. Se somos a Cidade das Artes, vivamos a arte do presente, vivamo-la de forma permanente, renovada, continuada, actualizada. Demos destaque a quem fez desta cidade e da sua ESAD um marco importante da sua carreira artística. É curial criar dois novos roteiros de arte contemporânea pela cidade, um dedicado à pintura e outro dedicado à cerâmica. Ambos formados por murais que deverão emoldurar toda a cidade, a Cidade das Artes.