O Parque do nosso desencanto

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Gazeta das Caldas
Paulo Caiado | D.R.

A nossa Gazeta noticiava na semana passada, a inauguração no parque de estacionamento do Centro Hospitalar, do belíssimo mural de arte urbana “As Rainhas”, feito por alunos da Academia de Desenhos do Bruno, sob coordenação do cartoonista Bruno Prates.
No título lia-se “Mural dedicada às Rainhas valoriza parque de estacionamento do hospital”.
Eu sou da mesma opinião. Aliás eu considero que o Jardim da Água, da autoria de Ferreira da Silva, também valoriza muito o parque de estacionamento do hospital.
Também a Mata Rainha D. Leonor, os edifícios pertencentes ao Hospital Termal, o Paço Real, a Igreja do Pópulo e muito sobretudo o Chafariz das Cinco Bicas, valorizam muito o parque de estacionamento do hospital.
Este está para as Caldas como estava o Terreiro do Paço quando ali estacionavam os funcionários dos ministérios ali localizados. Também na altura eu considerava que o Cais das Colunas, o Arco da Rua Augusta, as arcadas da Praça do Comércio, a estátua do rei D. José e até o Martinho da Arcada, valorizavam muito o estacionamento dos funcionários do Ministério das Finanças e de outros ministérios. Julgo até que os turistas japoneses e coreanos que na altura enxameavam Lisboa, antes da Easy Jet e da Ryan Air trazerem uma nova revoada de turistas ingleses, irlandeses, holandeses e franceses à Baixa Pombalina, ficavam deslumbrados com a magnificência daquele parque de estacionamento com vista para o Tejo e tão bem emoldurado por edifícios setecentistas.
Hoje o parque de estacionamento dos funcionários do hospital, propriedade, julgo eu, de um outro Ministério, está também muito bem emoldurado e será sem dúvida um enorme ponto de atracção turística da cidade e de bem-estar para os seus moradores.
Na verdade, ironias à parte, o que valorizava verdadeiramente o parque de estacionamento do hospital era este sair dali de vez e devolver aquele espaço à cidade. Criar uma praceta ampla, empedrada ou relvada, que dignificasse o Jardim da Água e o nome de Ferreira da Silva, que criasse uma entrada mais acessível para a mata para os idosos, que permitisse às crianças brincar entre árvores e arte. Onde se pudessem realizar feiras temáticas aos sábados e domingos e eventos culturais no Verão.
E afinal de contas, até era um favor que fazíamos aos excursionistas que nos visitam e que teriam mais este espaço de lazer muito perto das paragens dos autocarros, já que estes insistem em estacionar em local proibido e perturbador de trânsito como é a Rua Diário de Notícias em vez do lugar que lhes está reservado junto à entrada para os courts de ténis do Parque D. Carlos I.
O parque de estacionamento do hospital é uma chaga aberta na zona histórica da cidade e parece que não há nenhum PDM que nos salve. É urgente que a autarquia e a administração do hospital distrital cheguem a um acordo porque um parque de estacionamento a céu aberto naquele local é como ter um carrinho de mão bem no meio da nossa sala de visitas.

Paulo Caiado
prcaiado@gmail.com