Meio milhão de euros para valorizar a Fábrica do Gelo de Montejunto

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Nos últimos anos têm-se realizado recriações históricas para dar a conhecer como era feito o gelo no tempo em que não havia frigoríficos

A Real Fábrica de Gelo de Montejunto será alvo de uma intervenção que custará cerca de meio milhão de euros e que inclui a instalação de um projecto museográfico. Este monumento remonta ao século XVIII e foi mandado construir para suprir a falta de gelo na capital. Hoje é visitável e tem um centro de interpretação na antiga casa do guarda florestal.

Foi recentemente aprovado um projecto de conservação, valorização e divulgação da Real Fábrica do Gelo de Montejunto orçado em cerca de meio milhão de euros. O objectivo é, segundo a Câmara do Cadaval, “tornar este espólio patrimonial condignamente visitável e mais perceptível, em harmonia com o património natural que o circunda e, consequentemente, mais apelativo aos visitantes”.
O plano de acção inclui uma investigação histórica e trabalhos arqueológicos e a concepção, produção e instalação de um projecto museográfico, além da conservação e restauro das estruturas e tratamento paisagístico e da divulgação e promoção turística.
A comparticipação de fundos do FEDER será de 85%, que correspondem a cerca de 425 mil euros.
A reinauguração deste monumento setecentista decorreu em Março de 2011, depois de uma intervenção que custou 258 mil euros (com um apoio comunitário de 57 mil euros). Na altura fez-se um plano semelhante ao que agora foi aprovado, mas com o antigo IGESPAR (que é antecessor da Direcção Geral do Património Cultural). Antes, durante mais de duas décadas, a Câmara do Cadaval efectuou acções de limpeza, estudo, restauro e conservação.
A construção da fábrica “teve início em 1741, e terá custado entre 40 e 45 mil cruzados, despesa megalómana para a época, com vista a satisfazer a grande procura de gelo que existia por toda a capital”, lê-se no site da plataforma Cadaval Cativa. Na altura “representou um grande avanço na qualidade e higiene do processo utilizado para a “produção” de gelo, dado que este passou a ser fabricado nos tanques da fábrica e não colhido após o vento o ter amontoado, como sucedia até então”.
Aí é possível conhecer a história e o processo de produção, ainda que quase tudo o que se sabe se deve à tradição oral. “Conta-se que quando chegava o mês de Setembro enchiam-se os tanques rasos de água e durante a noite esperava-se que o frio a congelasse. Quando o gelo se formava, o guarda da fábrica ia a cavalo até à aldeia de Pragança e, com uma corneta, acordava os trabalhadores. Antes do nascer do sol, num trabalho árduo e duro, as placas de gelo eram partidas, os fragmentos amontoados e depois carregados para os silos de armazenamento, onde o gelo era conservado até à chegada do Verão”.
Depois vinha a época do calor, e “decorria a complicada tarefa do transporte até à capital do reino”. O gelo era transportado no dorso de animais para descer a serra e depois seguia em carroças até aos “barcos da neve” ancorados na Vala do Carregado, de onde seguia por via fluvial até Lisboa.
“Estima-se que a actividade da Real Fábrica do Gelo tenha cessado em finais do Séc. XIX, tendo caído no esquecimento por quase um século”, conclui.