O arraial da Santa Casa da Misericórdia é cada vez mais um evento dos caldenses

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Gazeta das Caldas - Misericordia
Um arraial que se preze já não vive só de música e dança, sendo as refeições e as bebidas um dos seus motivos de atracção

Este foi o quinto ano em que a Santa Casa da Misericórdia das Caldas celebrou o seu aniversário na Praça de Touros, com um arraial de dois dias que juntou centenas de pessoas na festa dos 90 anos desta instituição. Trata-se de um evento que só vive graças à colaboração de muitos voluntários – na última edição estiveram envolvidas 70 pessoas – e que é essencial para angariar fundos para a Santa Casa.

Assim que entramos na Praça de Touros o ambiente é parecido aos dos típicos arraiais populares. Há bandeiras de várias cores a enfeitar o céu e muitas pessoas sentadas a conviver ao sabor de petiscos e cerveja. Os voluntários estão identificados com uma t-shirt da Misericórdia das Caldas e fazem chegar às mesas pratos de caracóis e moelas. Ao todo, a organização comprou para os dois dias 180 quilos de moelas e caracóis, além de 300 quilos de sardinhas e bifanas.
Comida não falta e música também não. Hoje são os Bric-a-Brac a animar a tarde com música portuguesa e muita boa disposição. Já há vários anos que esta banda caldense participa no aniversário da Santa Casa e desde sempre sem cobrar nada pelas actuações. Pelo palco do arraial passaram ainda os Jimdungo, os Red e os Bico d’Obra.
“O arraial são só dois dias, mas há muito trabalho que tem que ser feito antes e durante o evento, daí que os voluntários sejam tão importantes”, explicou João Fernandes, do Gabinete de Recursos de Inovação Social, salientando que nesta edição estiveram envolvidas 70 pessoas, a maioria funcionários da instituição. Mas há também cada vez mais colaboradores externos a ajudar e este ano, pela primeira vez, cerca de 15 estudantes da Escola Técnica e Empresarial do Oeste participaram na iniciativa, dando apoio às pinturas faciais, às vendas na quermesse e aos jogos com as crianças. Da angariação de patrocínios à transformação do recinto da Praça de Touros, da montagem do palco à confecção das comidas, do serviço de restaurante/bar ao controlo das entradas: há muito que fazer e é necessário distribuir tarefas.

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O evento da Misericórdia vive do trabalho voluntário dos seus funcionários
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A voluntária Filomena Alves foi homenageada

Curiosamente, este ano uma das homenageadas do aniversário da Misericórdia é uma voluntária. Há oito anos que Filomena Alves, antiga professora primária, ajuda os jovens do centro de acolhimento temporário com os trabalhos escolares. “É verdade que dou um bocadinho de mim, mas também recebo muito. Sinto que aquelas crianças e as funcionárias são a minha segunda família”, disse a voluntária, realçando que o seu trabalho ultrapassa o apoio aos estudos. “É necessário gerir muitas emoções, às vezes saímos de lá com vontade de chorar, mas o importante é transmitirmos àqueles jovens que há um caminho de oportunidades lá fora, só têm que saber agarrá-lo”, acrescentou.

“NÃO JULGUEM QUE NÃO HÁ DIFICULDADES”

À Gazeta das Caldas, Lalanda Ribeiro, provedor da instituição, disse que “o arraial já não é só da Santa Casa, é também dos caldenses, até porque há poucas festas que agora se realizam no centro da cidade e para onde as pessoas se possam deslocar a pé”, realçando que inicialmente o evento foi pensado com o propósito de abrir as portas da instituição à comunidade, mais até do que para angariar fundos.
Contudo, “as despesas têm aumentado nos últimos anos, desde logo com as actualizações do salário mínimo nacional, e o Estado não nos dá as contrapartidas necessárias”, acrescentou o responsável, que dá conta que muitas pessoas ainda pensam que a instituição usufrui dos lucros dos Jogos Santa Casa, quando esse dinheiro apenas é canalizado para a misericórdia de Lisboa.
“Não julguem que não passamos dificuldades, pois ainda o ano passado o nosso saldo foi negativo. Têm-nos valido as reservas que tínhamos guardadas, mas estas também se estão a esgotar”, reforçou Lalanda Ribeiro, sublinhando a importância de eventos como o arraial para angariar fundos. Só em 2017 foram amealhados 10 mil euros, que serviram para realizar obras no jardim de infância, um equipamento que ainda assim carece de mais melhoramentos. Por isso mesmo, o lucro angariado este ano servirá novamente para equipar esta estrutura que serve 75 crianças.
Nos 90 anos da instituição, o provedor destacou como principais conquistas o alargamento das instalações e o aumento das respostas sociais. Actualmente, a Santa Casa da Misericórdia das Caldas acolhe 67 idosos no lar e 28 na casa de repouso, presta apoio ao domicílio a 64 utentes e recebe 15 raparigas no lar de infância e juventude e outros 15 adolescentes no centro de acolhimento temporário. Já o Centro de Recursos Comunitário – que inclui serviços como a cantina e a loja social ou o projecto CLDS, de combate ao desemprego e à pobreza no concelho – chega a cerca de 400 pessoas.