CTTDesde que os Correios foram privatizados o serviço tem piorado e parece agora estar a bater no fundo. As queixas pelos atrasos na distribuição são uma constante, o serviço na estação das Caldas é desesperante, os carteiros queixam-se que há falta de pessoal e que os obrigam a fazer giros cada vez maiores. Uma coisa é certa: o serviço postal universal, que era uma das condições do caderno de encargos quando o Estado vendeu os CTT, não está a ser cumprido pelos novos donos da empresa.
É certo que pontualmente se vêem carteiros a distribuir correio ao sábado porque não houve capacidade para o fazer durante os dias úteis. E também é certo que a entrega do correio normal deixou de ser diária.
Gazeta das Caldas, dependendo em grande parte dos Correios para poder levar o jornal aos seus milhares de leitores, tem sido prejudicada por esta degradação do serviço e perdido muitos assinantes porque estes deixaram de encontrar à sexta-feira na sua caixa do correio as notícias que queriam ler no fim-de-semana. Um problema que também é partilhado por toda a imprensa regional, como se pode ver pelos testemunhos do Jornal de Barcelos, Alvorada e Diário do Alentejo.
Empresas, Serviços Municipalizados, operadoras de telecomunicações queixam-se do atraso na correspondência e em como esta faz com que os clientes paguem as facturas depois do atraso.
Gazeta das Caldas perguntou à responsável do Centro de Emprego das Caldas da Rainha, Célia Roque, se sentia o mesmo problema, mas esta não respondeu. Contudo, de acordo com um relatório da Provedora do Desempregado, todos os relatórios da Comissão de Recursos apontam como a principal causa de anulação da inscrição para emprego a deficiente prestação dos CTT.
Politicamente, os partidos mais à esquerda já reivindicam a reversão da privatização e os de direita um maior controlo do Estado sobre o serviço postal dos CTT.
Por sua vez, a administração dos Correios, contactada pela Gazeta das Caldas mostra que está em estado de negação ao assegurar que não nota qualquer degradação do serviço que a empresa presta.

Testemunhos

•José Henriques, morador no Largo João de Deus, queixa-se de atrasos recorrentes na recepção da Gazeta das Caldas, que é praticamente a única correspondência que recebe em correio físico. Na semana passada ainda nem sequer tinha recebido a edição de 15 de Dezembro.
Vendedor de profissão, diz que optou por receber tudo o que é possível via correio electrónico “porque o serviço postal é péssimo, e após a privatização está cada vez pior”.
No seu trabalho tem falado com alguns clientes sobre o tema e diz que alguns deles, na Foz do Arelho, estiveram semanas sem receber correio e depois chegaram mais de 20 cartas de uma vez. Algumas tinham sido emitidas em Novembro e eram facturas para pagar até meados de Dezembro, mas só chegaram depois de findos os prazos de pagamento.

•José Carlos, proprietário do Camaroeiro Real, no centro das Caldas, também esteve semanas sem receber correio e queixou-se aos nossos serviços pela falta da Gazeta. No entanto, acabou por constatar que se tratou de um erro do carteiro, que colocou o correio na caixa de um dos vizinhos. Quando deu pelo erro, percebeu que a situação se mantinha há algum tempo, pelo que não consegue perceber se também existiu falta de pontualidade na entrega da correspondência.
Contudo, José Carlos realçou que os atrasos na entrega do correio, sobretudo quando se trata de facturas para liquidar, podem trazer problemas às empresas.

•Eduardo Norte, residente no Campo, queixa-se de atrasos constantes na recepção da correspondência, sobretudo quando se tratam das facturas dos serviços de água, luz e telefone. As cartas chegam quase sempre muito em cima da data de limite de pagamento e já aconteceu, por diversas vezes, chegarem depois desse prazo. Exemplo disso foi a última factura de telefone, que tinha limite de pagamento a 21 de Dezembro e só lhe chegou a casa a 2 de Janeiro, quase duas semanas depois.

•Queixa semelhante apresenta Manuela Silveira, que vive na Rua Manuel Matos e Sousa, perto do Complexo Desportivo. “Estive à espera da factura da MEO durante bastante tempo, já ia ligar a saber o que se passava, quando a 4 de Janeiro recebi a factura com o limite de pagamento fixado a 22 de Dezembro”, contou à Gazeta das Caldas. Manuela Silveira pagou a factura e, caso seja multada por atrasos, irá alegar que a culpa foi dos Correios.

•Manuel Marques, morador na Rua Fonte do Pinheiro, diz que recebeu no dia 5 de Dezembro uma carta enviada de Lisboa a 23 de Novembro (que trazia uma convocatória para uma reunião a 29 de Novembro). Essa carta fazia parte de um lote de 12 que naquele dia o carteiro lhe depositou na caixa do correio depois de ter estado duas semanas sem receber uma única carta.

CTT
António Peralta diz que costuma receber a Gazeta só na semana seguinte

•Já António Peralta só viu a edição de Natal da Gazeta das Caldas na terça-feira seguinte e só porque a foi buscar às instalações da Gazeta. Nesse mesmo dia, o jornal chegaria a sua casa.
Estes atrasos “já acontecem há bastante tempo” reconhece o assinante da Gazeta, que já foi tentar reclamar da situação à secção de expedição do correio, na Zona Industrial, mas nunca conseguiu falar com nenhum responsável ou apresentar a reclamação. “Mandam-me ir ao centro da cidade”, disse o morador nas Águas Santas.
António Peralta diz que, inclusivamente, já pensou em desistir da assinatura do jornal pois nunca o recebe a tempo. “Só na semana  seguinte”, conclui.

•Esta situação é idêntica à de Pedro Sousa, que vive no Alto das Gaeiras. Assinante da Gazeta das Caldas há várias décadas, conta que o semanário só tem chegado a casa no início da semana seguinte, e não à sexta-feira como deveria ser. “Houve inclusivamente uma semana que não cheguei a receber o jornal”, disse.
Pedro Sousa chama a atenção para o facto dos carteiros, por vezes, não esperarem o tempo suficiente para o septuagenário responder, e levam o correio de volta para a estação.

“Depois, só no dia seguinte é que o posso ir buscar à Junta de Freguesia, quando seria mais fácil deixarem-no lá no próprio dia”, considera.
Outra situação que também denuncia é a entrega de cartas que não lhe pertencem na sua caixa de correio e que depois tem que ir deixar à Junta de Freguesia para serem  direccionadas para o destinatário correcto.

•O atraso da correspondência já trouxe dissabores a Olga Duarte, da Ramalhosa, que perdeu o seguro que tinha porque não o pagou atempadamente. “Recebi a carta uma semana depois da data limite do pagamento”, explicou, acrescentando que teve que fazer um novo seguro.
Olga Duarte também regista atrasos na entrega da Gazeta das Caldas e, inclusivamente, já apresentou reclamação nos CTT. “O mês de Dezembro foi uma miséria”, conta, acrescentando que quando recebe a correspondência são seis a 10 cartas de uma vez, embora emitidas em datas muito diferentes.
Mas também a sua mãe, que mora em S. Gregório, não recebe a correspondência dentro do prazo. Em causa está, por exemplo, uma carta para pagar a conta da televisão por cabo, que ainda não recebeu e que já vai com uma semana de atraso. O serviço continua assegurado porque a própria operadora enviou uma mensagem com os dados a pagamento.

•Jorge Mendes vive em Santa Rita e queixa-se que a Gazeta das Caldas não há meio de chegar a horas. “Houve inclusivamente uma semana em que não nos chegou o jornal!”, disse o assinante, que teve ainda atrasos com outras edições: “uma vez chegou a casa num sábado e noutra numa segunda-feira”.
O leitor lamenta esta situação pois é algo que “nunca tinha acontecido antes”. E diz que gostaria que a distribuição do correio pudesse voltar  ao que era antes, sem atrasos.

•António Santos, de A-dos-Negros, queixa-se do mesmo: “durante um ano foram várias semanas em que só recebi a Gazeta à se­gunda-feira e na semana passada, do Ano Novo, nem sequer chegou”. Quanto à restante correspondência, diz que não sabe se as cartas chegam com atraso. O problema é mesmo a Gazeta que chegava religiosamente todas as sextas-feiras e agora não. “Há coisas que interessa saber e que à segunda-feira já não interessa “, fez notar.

•Com um discurso semelhante, encontramos Emídio do Couto, da Ramalhosa. “Actualmente os correios não trabalham bem”, afirma peremptório. Também se queixa que a Gazeta de 29 de Dezembro só chegou em2018. “Gostava que chegasse a tempo e horas, mas chega muitas vezes atrasada”, lamenta.
“Se os correios não cumprem o que está estipulado, então deviam indemnizar a Gazeta que perde clientes por isso”. Apesar de gostar de ler as notícias da terra, “eu, por exemplo, se continuar a receber a Gazeta atrasada, cancelo a assinatura porque não faz sentido”.
Mas não é apenas a Gazeta que chega fora de horas: “também as contas para pagar chegam atrasadas, o que vale é que pago por débito directo”, disse Emídio do Couto, fazendo notar que “antes era raríssimo receber uma carta atrasada”, mas que desde meados de 2017 tem sido comum.

•Por seu lado, Ana Rita Flores, que mora na Ponte Seca (Gaeiras) também teve problemas com a distribuição do correio. As cartas referentes ao pagamento da creche do seu filho chegaram de tal modo atrasadas que ela já não conseguiu pagar através do multibanco e do home banking. Agora tem que se dirigir aos serviços da autarquia de Óbidos. O atraso para pagar a factura da eletricidade foi de tal ordem que “quando a carta chegou já me tinham cortado o serviço”, contou.  Também a carta do Centro do Emprego a pedir que esta se apresentasse obrigatoriamente “chegou uma semana depois da data”. Ana Rita Flores conseguiu reagendar nova apresentação, mas outras pessoas sem emprego tiveram que ir arranjar justificação sobre o atraso na distribuição postal caso contrário “cortavam-lhes o subsídio”.

•Da empresa O Seu Bairro Lda., na Rua Maria Ernestina Martins Pereira, Nuno Santos também tem notado alguns atrasos na recepção do correio normal, principalmente nas últimas semanas do ano, que coincidiram com a altura do Natal e Passagem de Ano.  “Só as cartas registadas é que são distribuídas em tempo útil”, disse o empresário à Gazeta das Caldas, realçando que já optou por receber a maioria das facturas por e-mail porque a via electrónica é mais fiável que a postal.

CTT
Inês Branco conta que a avó tem recebido facturas cujo prazo de pagamento já expirou

•Já Inês Branco, residente na Foz do Arelho, na Rua Direita, revelou ao nosso jornal que costumava receber postais enviados pelos seus familiares dos Estados Unidos pela altura do Natal, mas este ano os votos de boas festas só chegaram no passado dia 5 de Janeiro. Postais esses que deram entrada em Portugal no dia 26 de Dezembro.
Mas esta não é a sua única queixa. “A minha avó recebeu uma factura da água no dia 4 de Janeiro cujo prazo de pagamento terminava no dia 25 de Dezembro. Como ela já tem uma certa idade, fica logo muito nervosa com este tipo de situações”, acrescentou Inês Branco.

CTT
Anabela Coutinho diz que o carteiro só passa uma vez por semana

•Quem também já saiu penalizada com o mau serviço dos CTT foi Anabela Coutinho. “Começámos a reparar que durante vários dias não recebíamos nenhuma correspondência e depois de repente a nossa caixa do correio enchia-se de uma só vez”, contou à Gazeta das Caldas, acrescentando que o carteiro passa no máximo uma vez por semana pela sua rua (Beco das Arroteias, Nadadouro). É assim desde os meses de Verão, altura em que Anabela Coutinho se lembra de receber uma carta da Vodafone que chegou atrasada.  “Por causa desse atraso fui obrigada a pagar uma multa, o que me fez optar por receber os avisos de pagamento por mensagem de telemóvel”, queixou-se.
Só esta semana, Anabela Coutinho recebeu 15 cartas num só dia, algumas delas emitidas antes do dia 15 de Dezembro.